“Não sei quantas pessoas”, diz Jung, são capazes de imaginar o que significa o confronto com o inconsciente […] receio que sejam pouquíssimas.[…] Por um lado”, tal processo consiste em “compreender o mundus archetypus da alma; por outro, é a luta contra o perigo da fascinação que ameaça o lado racional […]” (Jung, 2003: 210)*. Entre os que buscam esses caminhos, muitos se perdem diante do abismo escuro do não-saber e do não-poder dar prosseguimento à sua obra. Tendo em vista a importância vital de resgatar o saber dessa área do conhecimento e seus paralelos com o processo de individuação, a temática da Revista Coniunctio v. 4, nº 5, em 2022, será Alquimia.

A alquimia é uma arte secreta que lança suas raízes na profundeza dos séculos. É uma ciência sagrada e iniciática em sua versão intrínseca e em sua versão extrínseca é ela a origem da química moderna e de seus desdobramentos. A verdadeira alquimia e os verdadeiros alquimistas existiram e existem desde sempre, sendo os fiéis depositários de um conhecimento transmitido por meio de textos clássicos herméticos, portadores de uma intensidade de vida incrível e fascinante.

Seja qual for sua origem ou cultura, a alquimia é uma Ciência Divina, chamada também de ars regia. O alquimista visava, e ainda visa, a realização do opus, a grande obra, que consiste na transformação do homem natural em homem espiritual ou, em outras palavras, na divinização do homem. Acontece que “o fato de o homem interior e seu ser espiritual serem representados por metais causa uma estranha impressão no homem moderno” (idem: 119), embora seja um fato psíquico que a natureza esteja empenhada “em impulsionar a consciência para uma maior expansão e lucidez, razão pela qual ela se aproveita da constante avidez do homem pelos metais, em especial pelos preciosos, levando-o a procurá-los e a investigar suas propriedades” (ibidem: 119).

* Jung,C.G. (2003). Estudos alquímicos. OC, 13. Petrópolis: Vozes.