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Edição "Imaginação Ativa"

n.3/2020
A Obra

Esta obra nasceu de duas edições eletrônicas precedentes e, portanto, apresenta-se na forma impressa como a terceira edição da revista Coniunctio. Como o próprio nome indica, o Ichthys Instituto de Psicologia Analítica pretende, por meio de seus professores e alunos e à luz de um sempre renovado olhar, rever aquilo que os antigos alquimistas chamavam de arte e que a psicologia analítica chama de processo. Tais autores já pressentiam a presença de uma dynamis filosófico-religiosa nos caminhos dessa arte, mas ainda não utilizavam os termos psíquicos que a psicologia profunda veio inserindo ao traduzir a sua linguagem simbólica em uma nova linguagem do inconsciente.

O problema central de todo o conhecimento que hoje se busca revigorar à luz de um novo olhar − a cada texto, a cada releitura associada às mesmas e eternas experiências − é o como da realização de um processo individual, parte fundamental do autoconhecimento. Como mostra o Emblema XLII alquímico de Michael Maïer, a leitura de certos autores renomados é um dos instrumentos sem os quais não se pode realizar a obra.

Da mesma forma, os modos de ver de nada servem sem a sabedoria da natureza. Ela nos fornece, com mais clareza do que nunca, a compreensão da imaginação verdadeira e de todos os modos de imaginar, através de um profundo diagnóstico diferencial. Nesse sentido, a finalidade do Ichthys e de seus alunos e professores é, por meio de cursos de extensão, seminários, jornadas, workshops, simpósios, cursos de pós-graduação etc., ampliar e aprofundar os caminhos da busca do conhecimento e do autoconhecimento.

A CAPA

A imagem que ilustra a capa é fonte de inspiração essencial e permanente de nosso trabalho. É uma obra do artista paranaense Júlio Castro, muito conhecido por suas paisagens do Paraná. Júlio utiliza várias técnicas artísticas na elaboração de desenhos alquímicos e sacros, e na pintura de igrejas e capelas. Sua ilustração para a capa de nossa revista, por meio de um extraordinário trabalho em bico de pena, mostra a significativa figura do adepto seguindo as pegadas de Sofia (a sabedoria divina). A ilustração é uma releitura do Emblema XLII, do livro Atalanta Fugiens, publicado em 1617 pelo médico, músico e alquimista alemão Michael Maïer.

O livro é composto por 50 emblemas − os Novos emblemas químicos dos segredos da natureza −, como diz o subtítulo. O emblema é uma figura simbólica que encerra uma ideia central em uma imagem ou gravura, e versos (epigramas) que explicam o sentido inerente a ambas. No livro de Maïer, cada emblema consiste em uma gravura, uma epigrama e um discurso que explica detalhadamente a ideia contida no emblema.

Grande parte da fama da obra é devida às 50 gravuras de Matthäus Merian, de extraordinária qualidade artística e comprovado valor doutrinal, mas isso não diminui o excepcional ensinamento contido nos discursos, em que − por meio de alegorias, associações e alusões – o autor transmite conhecimentos mais claramente do que aqueles que se restringem aos aspectos técnicos.

A gravura do Emblema XLII nos é especialmente inspiradora. O conjunto do emblema, com a epigrama e o discurso, que leremos a seguir, são luzes que iluminam e orientam nosso trabalho e nossa busca de conhecimento[1].

[1] O texto do Emblema XLII, que aqui transcrevemos, é uma tradução livre da versão francesa do livro de Maïer, realizada e publicada pelo junguiano francês Étienne Perrot a partir do original em latim.

MAÏER, Michael (1617/1969). Atalante Fugitive. Traduction française de Étienne Perrot. Paris: Librairie de Médicis (1969); Éditions Devy (1997).

Emblema XLII
Para aquele que é versado em Chymia, natureza, razão, experiência e leitura devem atuar como guia, bastão, óculos e lâmpada.

Epigrama XLII
Que a natureza seja teu guia, que tua arte te conduza passo a passo; tu te perdes longe dela.
Que o espírito seja teu bastão; firmando teus olhos
A experiência permitirá ver à distância.
A leitura, tocha brilhante na escuridão,
Te esclarecerá o amontoado de palavras e de materiais.

ARTIGOS E RESUMOS
Sonia Lyra
Imaginação Ativa aplicada a transtornos do estresse pós-traumático por violência urbana.
(Sonia Lyra)
Carl Gustav Jung (1875-1961) desenvolveu em sua psicologia analítica um método dialético denominado imaginação ativa, que consiste na assimilação de conteúdos do inconsciente (tanto pessoal quanto coletivo) pela consciência. Tal método foi sistematizado por Robert Johnson (1989) em seu livro Inner work: a chave do reino interior. Nossa proposta neste artigo é apresentar a possibilidade de ampliar um estudo sobre a aplicação da imaginação ativa − iniciado em 2012, com pacientes de bruxismo usuários de placas interoclusais, que responderam positivamente ao tratamento −, estendendo agora a aplicação para portadores de transtorno do estresse pós-traumático por violência urbana (TEPT). O TEPT consiste em um conjunto de sintomas instalados em indivíduos que foram espancados, estuprados, assaltados, torturados, sequestrados ou que apresentam sequelas de situações traumáticas provocadas pelo meio social urbano. A escolha do TEPT para este estudo se justifica pela necessidade de que indivíduos e grupos sociais assim traumatizados voltem a interagir tão rápido e eficazmente quanto possível, buscando o bem-estar próprio e o do mundo circundante, sem que tenham de se submeter a longos processos psicoterápicos. Nesses casos, a técnica da imaginação ativa pode ser muito útil, pois, quando focada no sintoma, pode vir a transformá-lo positivamente em até mesmo uma sessão. Naturalmente, há casos em que uma única sessão não é suficiente, devido à implicação de outros fatores, sejam eles físico-biológicos, psíquicos, sociais ou espirituais; mas, ainda assim, o método oferece a possibilidade da percepção do sentido latente e o encontro do almejado bem-estar pós-traumático. Explicitando-se a técnica da imaginação ativa, busca-se reconstruir o modelo teórico-prático justificado por pesquisas de campo para o tratamento do TEPT. Com isso, é possível que se abra no campo da psicologia – tanto individual quanto socialmente − uma nova perspectiva histórica, teórica e prática que, através dos processos de cura da dissociação da psique, com etiologia social, possa restituir o indivíduo a si mesmo e ao meio social. Tendo em mãos as estatísticas geradas pela pesquisas iniciais e pela aplicação da técnica em estudos de casos clínicos, confirma-se cada vez mais a sua eficácia, que está diretamente ligada ao preparo do profissional especializado nesse conhecimento. Palavras-chave: imaginação ativa, transtorno, estresse pós-traumático, violência urbana, psicologia analítica.
Ana Silvia de Andrade2
A Imaginação Ativa como tratamento para a enxaqueca.
(Ana Silvia de Andrade)
O presente estudo tem como objetivo relatar o caso clínico de uma paciente portadora de enxaqueca, em cujo tratamento foi utilizada a técnica da imaginação ativa. A enxaqueca, também conhecida como migrânea, é uma doença neurovascular que se caracteriza por crises repetidas de dor de cabeça do tipo pulsátil; pode causar grande impacto e transtornos na qualidade de vida dos indivíduos por ser uma doença autolimitante e afetar a execução das atividades diárias. A sociedade está à procura de novas formas de tratamento para a doença que não incluam o uso de medicamentos e, entre elas, podemos incluir a abordagem proposta por Carl Gustav Jung, criador da psicologia analítica; para ele, além do aspecto físico-biológico, interessa investigar também os fatores psíquicos e inconscientes implicados na doença. Jung ocupou-se em compreender a alma humana e a dinâmica da psique, desenvolvendo um método para acessar os conteúdos inconscientes que denominou imaginação ativa; esse método possibilita que um conteúdo invisível do inconsciente venha à superfície em forma de imagem, tornando possível lidar e dialogar com ele. Palavras-chave: imaginação ativa, enxaqueca, sintoma, psicologia analítica, diálogo.
Adelaide de Faria Pimenta
O efeito da aplicação da técnica da Imaginação Ativa no tratamento da síndrome de burnout.
(Adelaide de Faria Pimenta)
A síndrome de burnout, também expressa como estresse ocupacional ou esgotamento profissional, consiste em um conjunto de sintomas como exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal no trabalho, manifestando-se por meio de fadiga prolongada, irritação, e até mesmo depressão. Os fatores etiológicos da síndrome de burnout estão associados ao ambiente e às relações no trabalho, mas há uma ampliação do conceito, que se estende para além do ambiente laboral. Os tratamentos utilizam medicamentos, além da psicoterapia. Escolheu-se avaliar uma estudante de doutorado, indicada por sua dentista por sofrer da síndrome de burnout em grau elevado, apresentando quadros associados de bruxismo e enxaqueca. O ponto central dessa investigação é avaliar a eficácia da aplicação da técnica da imaginação ativa em relação aos sintomas da síndrome de burnout. Neste estudo de caso clínico, foi possível constatar algumas falhas na aplicação da técnica na primeira sessão com a paciente, que apresentou uma melhora apenas aparente e temporária dos sintomas. O aprendizado neste caso é que a eficácia da técnica está diretamente associada ao uso correto de seus procedimentos e à habilidade do terapeuta. Palavras-chave: síndrome de burnout, imaginação ativa, técnica, habilidade do terapeuta, bruxismo.
Renata A. Borges
Fibromialgia: o despertador da alma.
(Renata Almeida Borges)
A fibromialgia é uma síndrome caracterizada por um conjunto de sintomas orgânicos e psíquicos que, dependendo da intensidade e da frequência, pode ter um profundo impacto na vida do indivíduo, ao impor-lhe sérias limitações por meio de dores que podem chegar a ser insuportáveis. O quadro clínico é bastante inespecífico e revela influências de aspectos psíquicos inconscientes, tanto no aparecimento da síndrome, quanto no desencadeamento de uma crise. Assim sendo, o presente trabalho é um estudo de caso que, tendo em vista a relevância dessa síndrome entre as doenças reumatológicas e a ausência de estudos que busquem compreender o aspecto simbólico da dor na psicologia analítica de Carl Gustav Jung, tem como objetivo investigar o efeito da técnica da imaginação ativa na dor da fibromialgia, aplicada em uma única sessão de sessenta minutos. O caso aqui relatado é de uma paciente de 43 anos de idade que há seis anos sofria com dores fibromiálgicas. Após a sessão de imaginação ativa, pôde-se constatar por meio da Escala Visual Analógica (EVA) uma significativa transformação na intensidade e frequência da dor e no uso da medicação. Palavras-chave: fibromialgia, dor, imaginação ativa, rito de passagem, transformação.
Roselis Bittelbrunn
Técnica da Imaginação Ativa aplicada em paciente com câncer de mama: relato de caso.
(Roselis Bittelbrunn)
Este estudo de caso tem como objetivo avaliar a eficácia da aplicação da técnica da imaginação ativa em uma paciente diagnosticada com câncer de mama e metástase no pulmão. Segundo o sistema de saúde brasileiro, os atuais números de diagnóstico positivo para esta patologia são alarmantes, sendo a segunda causa mortis da população, perdendo apenas para as doenças cardiovasculares. Diante disso, órgãos governamentais desenvolvem programas de saúde e planos de ação para prevenir, diagnosticar, tratar e cuidar daqueles que adoecem. Entre esses órgãos, o Sistema Único de Saúde (SUS) adota um modelo biomédico que prioriza o corpo de forma mecanizada e complexa, pautando-se pelos processos fisiológicos. No entanto, novas concepções sobre a origem das doenças apontam para a necessidade de compreender o ser humano com base nas inter-relações entre os aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Nesse sentido, os sintomas são considerados expressões simbólicas que se manifestam de forma fisiológica e podem ser instâncias de revelação dos conflitos internos. Por meio deles, é possibilitado ao paciente compreender o sentido e/ou até mesmo obter a cura da doença. Compreender, portanto, a função das imagens simbólicas que subjazem ao sintoma é fundamental nesta abordagem. Como método dialético, a técnica da imaginação ativa busca promover o encontro de elementos (imagens) inconscientes e a interação (diálogo) destes com a consciência, para alcançar com essa interação dialética um resultado transformador. Nessa perspectiva, ela tem se mostrado um fator efetivo na transformação dos sintomas, por ser um meio que possibilita acessar os fenômenos inconscientes e sua subsequente integração na consciência. Partindo dessa premissa, este estudo de caso nos permitiu considerar os efeitos resultantes da aplicação da técnica da imaginação ativa, que proporcionou à paciente maior vigor para enfrentar os percalços da doença, contribuindo, assim, para a comprovação da eficácia da aplicação da referida técnica. Palavras-chave: imaginação ativa, sintoma, transformação, câncer de mama, psicologia analítica.
mariana godoy
A técnica da Imaginação Ativa para o tratamento do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
(Iara Roman)
O propósito deste trabalho é comprovar a eficácia da aplicação da técnica da imaginação ativa para um caso de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Este é considerado uma das doenças mais incapacitantes da atualidade e o quarto diagnóstico psiquiátrico mais comum, depois de fobias, transtornos relacionados a substâncias e transtorno depressivo maior. O transtorno obsessivo-compulsivo caracteriza-se pela presença de obsessões, compulsões ou ambas. A imaginação ativa, técnica desenvolvida por Carl Gustav Jung (1875-1961), trata de um percurso interior que, com o uso adequado da imaginação, implica tornar consciente o inconsciente. Posteriormente, a técnica da imaginação ativa foi sistematizada por Robert Johnson e atualmente é desenvolvida no Brasil pela analista junguiana dra. Sonia Lyra, nos atuais moldes de sua prática. Constatou-se neste estudo de caso, através de uma metodologia própria, que a aplicação adequada da técnica da imaginação ativa foi eficaz na redução dos sintomas obsessivo-compulsivos. Até o presente momento, não foi encontrado nenhum relato da utilização da técnica da imaginação ativa para tratamento do TOC, o que torna este trabalho inédito. Palavras-chave: imaginação ativa, transtorno obsessivo-compulsivo, sintoma, neurose, cura.
Transtorno do orgasmo feminino e a técnica da Imaginação Ativa.
(Sandra R. de Almeida)
Este estudo de caso tem como finalidade propor uma possibilidade de tratamento do transtorno do orgasmo feminino por meio da aplicação da técnica de imaginação ativa. Desenvolvida por Jung e sistematizada por Johnson, essa técnica − cujo objetivo visa a transformação do sintoma − há muitos anos é pesquisada e sistematizada no Brasil pela dra. Sonia Lyra. O sexo e a sexualidade humana são temas que sempre despertaram e ainda despertam o interesse de pesquisadores e pensadores que buscam um melhor entendimento da psique e do comportamento do indivíduo. A sexualidade humana tem raízes profundas numa dimensão desconhecida, o inconsciente, e é um campo extremamente propício para a atuação autônoma do instinto. Nesse cenário, destaca-se o transtorno do orgasmo feminino, classificado como o transtorno mais frequente entre as disfunções sexuais femininas, causando sofrimento psíquico e tendo como consequência perturbações graves no relacionamento afetivo. Jung, cientista que dedicou toda a sua obra a entender a psique, escreve sobre a existência de fatores inconscientes autônomos que a consciência precisa assimilar, pois, caso contrário, podem ocorrer sérias consequências para a psique, que terão sua manifestação mais evidente através do sintoma. Palavras-chave: sexo, sexualidade, orgasmo, disfunção sexual, imaginação ativa.
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