
Esta obra nasceu de duas edições eletrônicas precedentes e, portanto, apresenta-se na forma impressa como a terceira edição da revista Coniunctio. Como o próprio nome indica, o Ichthys Instituto de Psicologia Analítica pretende, por meio de seus professores e alunos e à luz de um sempre renovado olhar, rever aquilo que os antigos alquimistas chamavam de arte e que a psicologia analítica chama de processo. Tais autores já pressentiam a presença de uma dynamis filosófico-religiosa nos caminhos dessa arte, mas ainda não utilizavam os termos psíquicos que a psicologia profunda veio inserindo ao traduzir a sua linguagem simbólica em uma nova linguagem do inconsciente.
O problema central de todo o conhecimento que hoje se busca revigorar à luz de um novo olhar − a cada texto, a cada releitura associada às mesmas e eternas experiências − é o como da realização de um processo individual, parte fundamental do autoconhecimento. Como mostra o Emblema XLII alquímico de Michael Maïer, a leitura de certos autores renomados é um dos instrumentos sem os quais não se pode realizar a obra.
Da mesma forma, os modos de ver de nada servem sem a sabedoria da natureza. Ela nos fornece, com mais clareza do que nunca, a compreensão da imaginação verdadeira e de todos os modos de imaginar, através de um profundo diagnóstico diferencial. Nesse sentido, a finalidade do Ichthys e de seus alunos e professores é, por meio de cursos de extensão, seminários, jornadas, workshops, simpósios, cursos de pós-graduação etc., ampliar e aprofundar os caminhos da busca do conhecimento e do autoconhecimento.
A imagem que ilustra a capa é fonte de inspiração essencial e permanente de nosso trabalho. É uma obra do artista paranaense Júlio Castro, muito conhecido por suas paisagens do Paraná. Júlio utiliza várias técnicas artísticas na elaboração de desenhos alquímicos e sacros, e na pintura de igrejas e capelas. Sua ilustração para a capa de nossa revista, por meio de um extraordinário trabalho em bico de pena, mostra a significativa figura do adepto seguindo as pegadas de Sofia (a sabedoria divina). A ilustração é uma releitura do Emblema XLII, do livro Atalanta Fugiens, publicado em 1617 pelo médico, músico e alquimista alemão Michael Maïer.
O livro é composto por 50 emblemas − os Novos emblemas químicos dos segredos da natureza −, como diz o subtítulo. O emblema é uma figura simbólica que encerra uma ideia central em uma imagem ou gravura, e versos (epigramas) que explicam o sentido inerente a ambas. No livro de Maïer, cada emblema consiste em uma gravura, uma epigrama e um discurso que explica detalhadamente a ideia contida no emblema.
Grande parte da fama da obra é devida às 50 gravuras de Matthäus Merian, de extraordinária qualidade artística e comprovado valor doutrinal, mas isso não diminui o excepcional ensinamento contido nos discursos, em que − por meio de alegorias, associações e alusões – o autor transmite conhecimentos mais claramente do que aqueles que se restringem aos aspectos técnicos.
A gravura do Emblema XLII nos é especialmente inspiradora. O conjunto do emblema, com a epigrama e o discurso, que leremos a seguir, são luzes que iluminam e orientam nosso trabalho e nossa busca de conhecimento[1].
[1] O texto do Emblema XLII, que aqui transcrevemos, é uma tradução livre da versão francesa do livro de Maïer, realizada e publicada pelo junguiano francês Étienne Perrot a partir do original em latim.
MAÏER, Michael (1617/1969). Atalante Fugitive. Traduction française de Étienne Perrot. Paris: Librairie de Médicis (1969); Éditions Devy (1997).
Emblema XLII
Para aquele que é versado em Chymia, natureza, razão, experiência e leitura devem atuar como guia, bastão, óculos e lâmpada.
Epigrama XLII
Que a natureza seja teu guia, que tua arte te conduza passo a passo; tu te perdes longe dela.
Que o espírito seja teu bastão; firmando teus olhos
A experiência permitirá ver à distância.
A leitura, tocha brilhante na escuridão,
Te esclarecerá o amontoado de palavras e de materiais.